sábado, 5 de abril de 2008

Motoqueiro, caminhão, pedestre, carro importado, carro nacional.

[Prólogo: quem escreve sabe o que é sofrer com a auto-crítica e vez ou outra apagar um escrito enquanto ele ainda está na metade. Isso me ocorreu pelo menos três vezes essa semana. Vou tentar não lembrar mais do leitor quando pensar "isso está uma merda, vou fechar a aba e não manter registros".]

Diversas vezes o trânsito de Recife me faz pensar sobre qual o real motivo das pessoas saírem de casa.
Por que parece que todo mundo vai para o mesmo canto que você quando a hora e o lugar não gostariam disso?
De onde saem todos aqueles imbecis, dispostos a atravessar seus carros em algum lugar escroto, que fazem você imaginar que espécie de animal racional faria aquilo?

Ah, homo sapiens...

E em uma bela manhã de sábado, indo à Residência Matos, me surge uma reflexão rasa.

1. Fundamentação e análise situacional

Por que diabos esse povo está todo na rua, e de carro ainda por cima?
Para que sair de casa na hora do almoço?
Eles não poderiam, só hoje, almoçar com suas famílias, aproveitar a paz e felicidade de seus lares e depois assistirem Luciano Huck?
Parem de atrapalhar minha vida com suas idéias egoístas e emissoras de carbono de sair logo quando eu estou saindo de casa.

2. Alternativas e soluções

O povo poderia, ao invés de ocupar todas as ruas de Recife, começar a se dedicar a alguma atividade caseira.

A alternativa real é a seguinte: a prefeitura poderia lançar uma lei que só permitisse que as pessoas saíssem de casa, de carro, caso tivessem escrito alguma poesia antes, no mesmo dia. Algo semelhante a um castigo ou condição a ser cumprida para que o povo pudesse usufruir do seu direito de atormentar a vida dos que não querem.

3. Conseqüências

O analfabetismo seria reduzido drasticamente (ou então surgiriam cada vez mais poetas concretistas).

Conhecendo o povo brasileiro, uma coisa seria certa: todo mundo deixaria para escrever suas poesias na última hora, permitindo que os autores do projeto de lei possam transitar livremente pelas ruas da cidade nos horários convencionais.

Conhecendo as leis de Murphy e a filhadaputagem característica do povo brasileiro, outra coisa seria certa: todo mundo escreveria suas poesias logo cedinho, pela manhã, com o único intuito de cagar o trânsito e provar às autoridades que elas estavam erradas.

Em que mais isso iria afetar o resto do mundo?
Bem... Recife seria considerado um grande centro de produção cultural e literária. Imagine só morar em um lugar onde as pichações nos muros seriam poesias autorais. Recife transpiraria intelectualidade e seria uma cidade modelo de como os cidadãos devem se portar, de como o trânsito deve fluir.

Mas eu confio tanto na humanidade a ponto de acreditar que isso seria bom?
Nunca serão! Jamais serão!
Dê um lápis e um pedaço de papel a qualquer um que não esteja disposto a escrever, veja a merda que vai sair. Imagine acordar todo dia e saber que pelo menos um milhão de coisas ruins estão sendo escritas na sua cidade...

Recife seria o esgoto cultural do universo e duvido muito que qualquer um daqui duvide disso.

[Viram só, vogons? NÓS vencemos! A-ha!]

Tudo isso por culpa de uma série de idiotas parados, fechando cruzamentos, para comprar a porra de um galeto enfumaçado. Viram só no que vocês transformaram a nossa cidade? Se sentem orgulhosos agora?

Amoral da história: fiquem em casa chupando carvão e não me encham mais o saco.